No último dia 25 de Abril, aconteceu em São Paulo o ERP Summit, um evento voltado para pessoas que estão, de alguma forma, ligadas à utilização de sistemas de gestão, sejam fornecedores de ERP, influenciadores ou mesmo empresários que utilizam o sistema em seus negócios.
O foco principal do evento foi a contribuição para as melhores práticas de gestão e maturidade no uso do ERP, além de trazer as tendências do mercado e as inovações tecnológicas do setor. Mas como participante mais idoso entre os palestrantes, pediram-me também para falar sobre a evolução do software no Brasil nas últimas décadas. Então resolvi falar um pouco da minha história:
Quando conclui em 1965 a minha formação em Administração de Empresas na FGV, me senti um pouco frustrado. Achava que havia pouca ciência na arte de administrar uma empresa. De fazê-la ter sucesso, dar lucro, sobreviver à dura concorrência que existe num mundo capitalista. Acho que depende mais da própria atitude e vocação do dono. Ou do mercado naquele momento ou do produto escolhido. Ou até mesmo da sorte.
Mas ocorreu um fato que mudou minha vida: recebi um panfleto me indicando um Curso de Programação de Cérebros Eletrônicos. Assim eram chamados os computadores naquela época, emoldurados no centro da cidade, em imensos aquários de empresas como a IBM, Burroughs, Univac, Bull e outras multinacionais.
Fiz o curso e qual não foi minha surpresa quando vi que essas máquinas continham o fatídico comando IF:
IF salário maior que $2000,00 paga imposto de Renda. IF menor, não paga.
Elas eram capazes de tomar decisões. Baseadas é claro em uma determinada condição. Ou seja, elas faziam exatamente aquilo que nós tínhamos aprendido nos 4 anos de FGV. Mas para isso era preciso ensiná-las. Como? Desenvolvendo um programa. Ou seja, um conjunto de instruções seguindo determinada sintaxe (assembler, cobol, Fortran, não importa). Semelhante às famosas “Normas de Procedimentos” (escritas na sintaxe do nosso idioma) tão enaltecidas na escola.
E assim nasceu o SIGA: Sistema Integrado de Gerencia Automática. Ou seja, o computador pode ajudar na administração de uma empresa. E, talvez, quem sabe um dia, ele nem vai precisar de nossa ajuda!
E nesta época já estava eu trabalhando em uma empresa de consultoria, implantando um sistema de Custos. Cálculos e mais cálculos, tudo feito à mão, usando no máximo uma maquininha de calcular. E então comecei a programar.
Com isso, passei 10 anos trabalhando em empresas de Processamento de Dados, que depois virou Informática e hoje é Tecnologia da Informação. Tentei, é claro, na IBM, o sonho de todo jovem da área. Mas depois de estar entre os 100 finalistas para a última seleção dos 10 que iriam passar um ano na Gávea (RJ) aprimorando seus conhecimentos, fui reprovado. A resposta da última questão do teste de admissão, um tremendo polinômio a ser resolvido, era 1/5. Coloquei 5, esqueci do numerador.
Passei então uma temporada na Bull e depois na Siemens-ESC. Sempre programando (o SIGA, é claro). Mas a Siemens encerrou suas atividades em 1974, sem aviso prévio e lá estava eu, no olho da rua. Mas com o SIGA debaixo do braço. Perguntei ao diretor da Siemens se poderia utiliza-lo em um negócio próprio (se fosse hoje eu diria que iria empreender em uma “startup”), pois um cunhado meu tinha uma metalúrgica de pequeno porte, ideal para que eu continuasse a desenvolver o meu sonho.
– Se um dia funcionarrr, pode!
Disse o diretor, mais uma vez mostrando como é o estilo alemão de incentivar as pessoas. Lembre-se que sou filho de alemães.
E assim nasceu o Bureau de Serviços SIGA, que depois virou MICROSIGA e hoje é a TOTVS. Ainda tendo como CEO o Laércio, que entrou como estagiário, em 1978, aos 16 anos, virou gerente em pouco tempo e depois sócio.
E em 2006, depois de muito trabalho e muita labuta, fizemos o IPO. A empresa se torna pública e eu aos 63 anos, “na flor da idade”, fui galgado ao Conselho.
– Você só precisa vir uma vez por mês, para tomar algumas decisões, quer vida melhor? Diziam os demais sócios.
Três dias em casa e minha mulher bradou:
– Não vai dar, não vou aguentar você aqui o dia inteiro. Pelo amor de Deus, vai trabalhar!
Aquilo soou que nem uma sinfonia aos meus ouvidos.
Fundei a TI Educacional, sempre gostei de dar aulas. Até hoje ministro cursos. Adoro dar aulas, porque é uma colaboração que a gente faz para a sociedade, e a maior satisfação é quando você encontra uma pessoa que diz “tive aula com você e hoje tenho a minha empresa”.
E na TI voltei a programar. Havia parado em 1995 para ser chefe. Eu era o ‘chefe’ do computador. Eu mandava, ele fazia. Agora eu era chefe de pessoas. É bem mais difícil! Nem sempre as pessoas obedecem.
Foi o maior erro de minha vida. Quem gosta de programar jamais deve abandonar essa profissão. A sensação que se tem, ao ver na tela do computador, o resultado de uma lógica altamente complexa, definida em milhares de linhas de código, é indescritível.
E assim nasceu o ERPFlex. Um sistema na nuvem. Mais fácil para servir como instrumento no ensino do ERP. O aluno pode chama-lo de qualquer máquina, pois roda no navegador. Dispensa infra estrutura de hardware. Trabalha com uma única versão. E ainda foi desenvolvido em tecnologias open source e gratuitas.
Ficou tão bom que comecei a usa-lo na própria TI e também no Circuito NETAS, outra empresa que administro. Dai vieram os amigos, os amigos dos amigos… e hoje já temos mais de mil clientes.
ERPFlex
Até 2011, era focado em pequenas e médias empresas, mas por estar hospedado em Data Center permite atender a demanda de clientes maiores, pois lá o ambiente é elástico, ou seja, aumenta a capacidade de armazenamento conforme surge a necessidade.
A plataforma do ERPFlex é um Framework, o que facilita a vida do programador. É a criação de uma série de recursos, principalmente funções e rotinas já prontas, que viabilizam o desenvolvimento de programas.
Na entrada do sistema temos o login – você seleciona a empresa e já tem um widgets que mostra o faturamento mensal, as despesas, o fluxo de caixa e outras informações.
No SPaventura, quando implantamos o ERPFlex, verificamos que faltavam algumas rotinas específicas de um sistema hoteleiro, tais como reservas, comandas, situação dos quartos etc. Então, em 20 dias e com mais de 15 programas novos, desenvolvemos as rotinas específicas, utilizando todas as demais funcionalidades de faturamento, compras, contabilidade, financeiro e estoque do próprio ERPFlex.
Nossa plataforma permite aliar funcionalidades específicas ao que já existe no sistema. Por exemplo, se você já possui um sistema em Delphi ou outra plataforma que não rode na nuvem pode perfeitamente converter as suas verticais e utilizar o restante do próprio ERPFlex.
Outro fato interessante é que o ERPFlex utiliza o mesmo sistema para todos os clientes, mas cada cliente tem suas próprias telas de entrada de dados. O usuário pode customizá-la, eliminando um campo ou uma coluna. Há telas, por exemplo, com 50 campos, mas o usuário pode retirar aqueles que não necessita e, se for o caso, estabelecer um valor ‘default’. Também é possível mudar a posição dos campos, colocando um relevante em primeiro lugar e até inserir novos. Ou seja, adequa-se o sistema às necessidades dos usuários.
Tudo isso faz com que nossos canais e parceiros também possam usufruir dessas vantagens. O usuário está cada vez mais exigente e quer informatizar tudo o que existe dentro de sua empresa. Por isso a velha frase “se não faiz, nóis faiz fazê – mas nóis cobra!”, pode ser usufruída por todos.
E o futuro?
Na verdade, temos hoje a possibilidade de avançarmos muito mais. Se olharmos, por exemplo, para o Waze, vemos como ele é rápido em tomar a melhor decisão. Será que não dá para fazermos isso também no ERP?
Você já imaginou chegar em sua empresa de manhã e perguntar:
– O que eu preciso fazer para resolver os meus problemas de hoje?
E o computador responder: “Olha, reduza o preço desse ou daquele produto, invista em marketing, dispense aquele vendedor e contrate um outro”.
É isso o que eu quero do ERP, não quero só ver dados, quero soluções!
Fala-se muito de Machine Learning. Quer dizer que nós vamos ensinar algo novo ao computador? Na verdade, o programador “ensina” o computador o tempo inteiro. Como já disse, me sinto chefe do computador. Eu falo “faça isso, faça aquilo” e ele faz direitinho.
O Machine Learning é um pouco mais avançado. Por exemplo, em nosso Processo Fiscal, quando chega uma nota de compra, o sistema define o CFOP a partir de uma Tabela de Decisões, que prevê todas as situações, tratada no programa. Quando chega uma nota inédita é possível que o programa não tenha a sua combinação na Tabela de Decisões. Via de regra, seria preciso mexer na Tabela e talvez no programa. A ideia é que o usuário apenas informe qual é o CFOP daquela nova situação e a Tabela de Decisão é atualizada via programa, de forma que na próxima vez o processo já estará normalizado. A máquina aprendeu a tratar também esse caso. Em casos extremos, até o próprio programa pode ser alterado automaticamente.
Outra evolução é o reconhecimento de voz que permite que, literalmente, se converse com o computador. Veja o caso do Siri ou do Cortana.
E também o reconhecimento facial e da íris permitirá que ele entenda quem está à sua frente. Sem ter que digitar a senha.
Além do RFID, QRCode, Beacon, IoT, etc, etc.
Inteligência artificial
Há tempos que o computador ganhou de um campeão de xadrez. E haja inteligência para se sair bem nesse jogo! Mas o que ele usa é IA – Inteligência Artificial.
Resumindo, Inteligência Artificial nada mais é do que o resultado de duas coisinhas que a gente aprende no Ensino Fundamental e nunca soube onde usar: correlação e simulação.
Correlação é definir numericamente uma situação de Causa e Efeito: Se aumentarmos a despesa de marketing, em quanto aumentará o volume de venda? Qual a equação que reflete esse movimento? Existe uma correlação? Claro que tendo como base uma boa amostra. E isso temos de sobra nos ERPs.
Ou, você reduz o preço de um produto, em quanto aumenta a quantidade vendida? É uma correlação negativa, um desce o outro sobe.
E tendo a correlação você consegue prever uma serie de coisas se souber o comportamento das variáveis correlacionadas. Se souber quanto vai gastar em marketing, saberá quanto vai vender. Você passa a ser um vidente!
E o que é simulação? Nada mais do que tentar todas as alternativas possíveis. E nisso o computador é rápido pra caramba. É assim que o computador ganha do campeão de xadrez. Ele simula todas as jogadas possíveis a partir de um lance do adversário e seleciona a melhor que ele deve fazer a seguir.
Juntando correlação com simulação é possível estabelecer a melhor solução entre milhões de alternativas. É o que o Waze faz. Correlaciona as velocidades de cada rota com o tempo total do percurso e seleciona o melhor caminho. E isso num piscar de olhos!
Em uma empresa isso é mais difícil. O gestor, quando tem que tomar uma decisão, pensa dessa forma:
– Se eu fizer assim, qual vai ser o resultado?
E aí ele pensa em 10 ou 15 situações diferentes. O computador vai pensar em um milhão e vai tomar a melhor decisão. E nos indicará exatamente o que fazer.
Para concluir, acredito que essas serão, no futuro, as evoluções focadas pelos desenvolvedores de ERP.
Quando você chegar na empresa, ele vai te dizer o que deve fazer: demitir ou contratar alguém, aumentar tal preço, reduzir tal despesa, enfim, tudo aquilo que passa na cabeça da gente quando a situação não está boa. Ou pode melhorar.
A tecnologia está nos fornecendo coisas fantásticas e temos que aproveitá-las. Vamos trabalhar!
Para ver a palestra na íntegra, clique na imagem abaixo: