Vamos falar de trabalho. Início de carreira. Quem tem pai que tem um negócio precisa, logo de cara, tomar uma decisão difícil. Vai trabalhar com ele ou não? Meu pai era fotógrafo, tinha um laboratório, fazia postais, fotos industriais. Trabalhei lá a partir dos 16 anos.
Eu amava o meu pai. Hoje rendo vários tributos a ele. Mas, na Fotolabor – esse era o nome da empresa – eu era mais conhecido como o “filho do Werner” do que como Ernesto. Na hora de me apresentar: muito prazer, “filho do Werner”. Aquilo me incomodava. Aí, quando me apaixonei pela programação, não teve jeito. Tive de enfrentá-lo e decepcioná-lo:
_ Vou trabalhar com processamento de dados (que depois virou informática e hoje é tecnologia da informação).
Ele me encarou com tristeza nos olhos, mas aceitou. Acabou dando a empresa aos funcionários, antes de falecer, em 1996.
_ Tomem, é de vocês.
E para mim, me deu mais uma alegria. Certa vez, ao me visitar na Microsiga, se apresentou da seguinte maneira:
_ Prazer, pai do Ernesto!
Mas, se como eu, você optar por não trabalhar no negócio da família, onde trabalhar, então? Numa grande empresa, no governo, empreender um negócio próprio – o sonho de todo jovem? O que fazer?
As vantagens de trabalhar numa multinacional ou mesmo no governo são várias: você aprende a ser corporativo. A cumprir prazos, respeitar orçamentos, seguir normas e regras, ser uma peça de uma enorme engrenagem.
E você tem seus benefícios: viaja pra caramba, faz cursos, por vezes no exterior (estive por seis meses na França pela Bull e mais seis na Alemanha pela ESC – Empresa de Sistemas de Computadores, subsidiária da Siemens e RCA aqui no Brasil), aprende idiomas, ganha bem, plano de saúde, vale-refeição, enfim, são muitas mordomias. Para a vida toda? Não sei. Depende da pessoa, depende do seu jeito de saber subir na hierarquia e galgar postos elevados na grande fogueira de vaidades que é a grande empresa. Aí, sim.
E se empreender for a sua opção, como também foi a minha, você precisará antes de tudo, de coragem. E uma boa dose de ousadia. Isso porque, muitas vezes, é necessário abrir mão de inúmeras coisas para correr atrás desse sonho. É claro que uma uma boa dose de empreendedorismo ajuda, ou seja, visão, ousadia, iniciativa, disciplina, ética, liderança, foco, competitividade, estratégia, percepção, garra, força de vontade, determinação. Mas, isso tudo, nós aprendemos com a própria escola da vida.
Não adianta ser malandro, desonesto, enganar. É preciso conquistar o cliente, cada vez mais exigente, com bons serviços, com delicadeza. Liderar e fazer os outros trabalharem corretamente, colocando cada vez mais tijolos no seu muro. Saber escolher os fornecedores, aproveitar que existem outros, tão bons quanto, ou até melhores. Negociar.
Vivemos em um mundo capitalista, onde o que não falta é concorrente, ainda bem! Seguir as regras do governo, as leis duras ou não – manda quem pode, obedece quem tem juízo. Pagar corretamente os impostos. Fazer o placar da empresa ser sempre positivo. A receita tem que ser sempre maior que a despesa. Dinheiro não cai do céu. Ninguém vai sustentar você a vida toda. São muitas emoções, uma atrás da outra, boas e ruins. Mas o que posso garantir, apesar de todos os paradoxos: é um universo fascinante.